Nos últimos anos, tenho notado um barulho crescente a respeito do minimalismo. Leio em blogs, escuto na rua e vejo muito no instagram. E faz todo o sentido, afinal, nossa geração é aquela que quer trabalhar com o que ama, que quer ser bem-sucedida e que quer viajar o mundo porque “é melhor gastar dinheiro em experiências, não em coisas”.
Para quem não sabe, o minimalismo como estilo de vida é, de uma forma resumida, um movimento que tem como princípio identificar o essencial em nossas vidas e eliminar todo o resto. Para que tudo isso? Para que tenhamos maior consciência do que nos faz bem e do que acrescenta positivamente em nossos dias. Alega-se também que você, ao aderir ao minimalismo, vai perceber que precisa de muito pouco para se sentir feliz e completo.
Como vocês que leem o Moderando há um tempo podem saber, eu estou buscando um equilíbrio na minha vida aos poucos e constantemente. É bastante natural, então, que eu seja uma das pessoas que gosta bastante do tema. Visito semanalmente o blog Becoming Minimalist (Tornando-se Minimalista, numa tradução livre) para saber sobre as atualizações e, quem sabe, aprender algo novo. E não é só ele; conheço vários blogs sobre o assunto e, toda vez que vejo alguém discutindo a respeito, leio e reflito sobre o que foi dito. Uma das minhas coisas preferidas é entender o pensamento das pessoas e as motivações que as levam a agir de determinada maneira. O minimalismo abre uma janela bem ampla para isso.
Entretanto, o que eu tenho visto muito por aí é um conceito equivocado do minimalismo. É fato que não existe uma regra a ser seguida, pois cada um de nós tem preferências e prioridades diversas em nossas vidas, sendo, portanto, importante refletirmos a fundo antes de qualquer mudança brusca. E é aí que mora o problema. Há muita gente atropelando entendimentos importantes desse processo pura e simplesmente para nos mostrarem, em fotos de um ambiente branco, claro, bonito e com pouquíssimos objetos, que encontraram sua paz de espírito.
E isso me deixa um pouco louca, pois, caso alguém peça para que você feche os olhos e pense sobre o minimalismo, é bastante provável que você veja um ambiente impecável, com poucos – e caros – móveis, dentro de uma paleta de cores básicas (preto, branco, cinza, azul marinho e marrom), que também se aplica às roupas e aos objetos. É como se existisse um padrão para o minimalismo – um padrão que mais complica do que simplifica sua vida, visto o trabalhão demandado para que o ambiente esteja, de fato, impecável, e o constante sentimento de não conseguir ‘chegar lá’, pois, convenhamos, quem é que tem dinheiro para renovar todo o guarda-roupa e substituir a decoração atual por letreiros de neon?
Não estou dizendo que não acho tais ambientes lindos e que não quero minha casa assim também, ou que desisti que buscar um estilo mais simples e com menos peças (mas boas peças) – é claro que eu quero e, inclusive, aos poucos estou dando os passos para chegar lá, no meu ideal. Porém, ninguém precisa de coisas específicas para alcançar a essência do minimalismo. Nós definitivamente não precisamos contar o quanto de cada item temos em casa e, muito menos, delimitar um estilo. Cada um de nós tem seus próprios ‘essenciais’.
Eu acredito que, sim, o minimalismo, em sua essência, pode ser bastante benéfico em nossas vidas. Mas também penso que ele pode ser mais fácil e acessível para pessoas comuns e que ele não requer filtros claros ou que você elimine 75% das coisas que você tem hoje.
Então eu achei que seria legal compartilhar aqui com vocês algumas das práticas que eu estou adotando em minha vida para deixa-la menos caótica e sem excessos e que, bom, são tão simples quanto a vida que eu quero.
1. Mantenha todas as coisas que você gosta.
Qual seria o sentido de se desfazer de coisas que você gosta e que te fazem bem? Talvez você olhe uma daquelas listas sugeridas de coisas para jogar fora e, enquanto faz todo o sentido se livrar de produtos vencidos, roupas que não servem e eletrônicos estragados, talvez você seja como a mãe de uma amiga minha que tem uma coleção enorme de canecas, as quais causam nela um sentimento de satisfação, mesmo que fiquem sem uso na maior parte do tempo. O mesmo vale para quaisquer coleções ou coisas que podem fazer sentido só para você.
No meu caso, posso citar os CDs que adquiri durante a minha adolescência e que, mesmo que faça anos que eu não abra as caixinhas (pois hoje existe uma maravilha chamada Spotify), toda vez que olho para eles lembro do quão bom foi tal período da minha vida e tenho certeza de que me arrependeria de passá-los adiante. O mesmo serve para o número de colheres de silicone que eu mantenho na minha cozinha – eu preciso sim de todas elas, pois, se eu tivesse que lavar uma mesma colher logo após cada uso, minha rotina se tornaria bem pesada, já que eu costumo fazer várias coisas ao mesmo tempo na cozinha.
Porém, se existem coisas que simplesmente estão ocupando lugar, acumulando pó e que não fazem a menor diferença na sua vida, não hesite em jogá-las fora (o que inclui doação e vendas, obviamente).
2. Não se prenda a números.
Eu sempre vejo sugestões sobre o número ideal de itens de determinada categoria que uma pessoa precisa ter. “Uma mulher precisa, em média, de 12 calçados”, “tenha pelo menos duas saias e três camisas de trabalho”, “é importante ter um vestido preto básico” e assim vai indo. Só que todas nós temos rotinas e gostos diferentes.
No meu caso, é totalmente inútil eu ter essas tais saias de trabalho. Nem consigo me imaginar usando. E, bom, eu ainda tenho um número grande de calçados, mesmo depois da limpa que fiz. Só botas são 7, que já andam sozinhas de tanto que eu uso cada uma delas – e isso é só mais uma prova de que não há um padrão para o minimalismo. É claro que talvez elas não sejam todas essenciais, se eu pensar na função que cada uma delas exerce, mas nenhuma fica parada. Além disso, todas têm mais de dois anos, e esse fato – de eu não sentir a necessidade de comprar outros modelos ou substituí-las – me traz um sentimento muito melhor do que se eu estivesse tentando selecionar quais as quatro que teriam que ir embora. E, na minha opinião, isso está bem mais ligado ao minimalismo do que ter um novo armário cápsula, com novas aquisições, a cada três meses.
3. Livre-se do que realmente for lixo.
É um risco que, quando nos empolgamos lendo sobre um estilo de vida mais simples, tenhamos vontade de ir correndo fazer uma limpa no guarda-roupa para retirar tudo que está em excesso. Eu, particularmente, gosto muito de mexer periodicamente nos armários da cozinha, para ver se tem algum produto com prazo de validade próximo e, também, para eu não comprar algo sem necessidade. (Mantemos um nível baixo de estoque aqui em casa, mas vai que meu namorado já tenha comprado, né?!)
Porém, o que precisa mesmo de uma atenção especial aqui em casa é o rack da sala. É nele que ficam boletos, faturas, exames médicos, notas fiscais e os diversos papeis que acabam aparecendo aqui em casa. Eu sei que é bem mais fácil dar um destino certo para cada um assim que eles entram em casa, mas ando pecando nesse aspecto e, também, ainda não consegui encarar o acumulado até agora. Faria muito mais sentido eu usar a energia que uso para, toda vez, olhar os armários da cozinha, em um tempinho para ajeitar de vez todos os papeis.
E tenho quase certeza de que não sou só eu que acabo negligenciando o fato de que há lixo de verdade em casa, e não só excessos. E ele sim precisa ir embora o quanto antes.
4. Seja realista a respeito dos itens da categoria “talvez-eu-use” ou “talvez-eu-precise”.
Quem nunca optou por manter alguma coisa porque achou que poderia precisar dela em algum momento? “Faz 4 anos que comprei essa blusa, nunca usei, mas ela é bonita, então eu vou ficar com ela e começar a usá-la no verão.” Ou, ainda, “a calça está pequena agora, mas vou emagrecer.” “Vou guardar esses papeis para embalar os presentes de natal.”
Muitos de nós somos reféns do “talvez” e, por isso, acabamos acumulando algumas coisas. E, tudo bem, eu já falei aqui que não existe problema realmente em ter muitas coisas, caso você goste delas e as aproveite, mas tem vezes em que precisamos ser realistas e desapegar. As chances de que você vai esquecer de tais coisas no instante seguinte são gigantes.
No meu caso, eu tive um scarpin por cinco anos, usei ele apenas uma vez e, mesmo ele tendo cortado todo o meu pé no único uso que teve, eu insistia em guardá-lo para o caso de eu precisar estar presente em uma reunião diferente (indo e voltando de táxi, claro), caso minha carreira tomasse outro rumo (já que, na minha profissão, o calçado que eu uso não faz a mínima diferença). E eu sempre posso usar uma sapatilha, se for o caso. Manter o scarpin faz tanto sentido quando o fato dos pais do meu namorado, que moram sozinhos, pagarem extra todo o mês por pontos adicionais da Net no caso de receberem visitas (o que acontece duas ou três vezes no ano). Ou seja, não há sentido.
5. Não ache que o minimalismo é a solução para tudo.
Não são muitos os casos de acumuladores ou pessoas totalmente apegadas a coisas materiais ao ponto de colocarem sua saúde ou segurança em risco. A maioria de nós tem coisas em excesso, sim, e podemos melhorar ao ponto de deixar nossa vida mais simples, sem entulhos ou coisas pendentes. Isso, sem dúvidas, vale muito a pena, e eu realmente acredito que nosso estado de espírito tem relação com o ambiente em que nos encontramos e com a forma com a qual encaramos diferentes situações. E é importante termos sempre consciência de tudo o que nos cerca e do que acrescentamos em nossas vidas.
Mas, bom, é claro que o minimalismo pode mudar a vida de uma pessoa, mas, na maioria dos casos, ele vai apenas melhorá-la, o que, convenhamos, já é o suficiente.
Imagem: 1
Bruna respondeu:
Nossa, sim, a casa dela é linda mesmo! E obrigada, Kaila! ❤